sexta-feira, 15 de outubro de 2010


Celina (Vulgo Mini)

O lugar era simples
Com pessoas simples
Que dividiam o mesmo espaço e se apertavam
Mas a Casa era como um coração de mãe
Sempre chegava mais um e mais um.
Rostos diferentes iam se tornando familiares
Um aperto de mão, um sorriso verdadeiro, um abraço apertado.
O clima era propício para novas amizades
Rever amigos e matar a saudade.
No palco meio que improvisado e apertado
Compositores apresentavam suas canções, acompanhados por sambistas.
Samba bom, gente animada, roda formada
A palma da mão ditava às vezes o ritmo
E o samba no pé não podia faltar.
Mas foi aí que subiu no palco um senhor
Pele preta, rosto cansado pela vida
Trazendo as marcas que o tempo deixou.
Trajava uma veste humilde, um chapéu de tricô na cabeça feito à mão
E em suas mãos envelhecidas
Um violão que o acompanhara por muitos anos como um grande amigo.
Achegou-se, cumprimentou a platéia
Pegou seu violão com todo carinho
O colocou em seu colo e bateu nas cordas com leveza e cuidado
Talvez para não machucar o velho amigo.
A platéia foi cantando com ele, sambas popularmente já conhecidos.
Mas eu não sabia, que aquele humilde senhor
Era o compositor de um dos sambas mais lindos
Que eu ouvira na minha infância e por muitas vezes já como adulto.
Depois de ter apresentado outros sambas compostos por ele
Fez um breve comentário sobre o próximo samba que ia cantar.
Disse que muitos já o conheciam e cantavam em rodas de samba.
Então dando o tom ele cantou...

“Só mesmo estando só
Pra evitar o mal maior
Eu ando livre por aí
Me dou pra todas
Busco nelas toda me encontrar
Não venha por mim, por dó
Eu gosto mesmo é de ser só
Não assumo nada
Vou seguindo a minha estrada
E só vou parar
Quando ela terminar
O fim dessa estrada
Pra mim será
Quando eu reencontrar Celina
Se não for o mesmo nome
Terá que ter, a mesma fibra daquela que amei”

E ao cantar, notei em seu semblante uma lembrança gostosa.
Uma satisfação de ver todos cantando com ele.
Me arrepiei todo dos pés a cabeça
Quando o samba que ele cantara
Era justamente aquele que me emocionava ao escutar
Que me trazia tantas lembranças boas
E momentos únicos.
E ao descer do palco, depois de ser aplaudido calorosamente
Tive a oportunidade de trocar algumas palavras.
Ele me disse que veio de longe para tocar na “Casa Véia”
Mas que não esperava que fosse ser recebido com tanto carinho
Que naquele momento ainda se sentia emocionado.
Fiz um breve comentário dizendo que no momento que ele fez o samba
Devia estar muito inspirado
E ele me disse com toda simplicidade:
“Nem eu mesmo acreditei, mas foi muito louco” (Risos)
Também não deixei de perguntar se a Celina realmente existiu
E ele com um lindo sorriso e um brilho nos olhos respondeu:
Existiu sim, ô Nega boa! (Mais risos)
E eu batendo no seu peito disse para ele:
E ela mexeu com o seu coração?
Ele disse:
Mexeu sim... (Mais risos)
E se despedindo me agradeceu por aquele momento
Pois outras pessoas também queriam comprimentá-lo.

Esse fato foi real, aconteceu numa noite de Domingo, em um samba que aconteceu em São Mateus, no Jardim Ester, Zona Leste de São Paulo (Na Casa Veia).

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